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Tragédia em Suzano chama atenção para saúde emocional dos jovens

O atentado ocorrido na Escola Estadual Raul Brasil, localizada na cidade de Suzano, região metropolitana de São Paulo, na manhã de quarta-feira, 13 de março, deixou o País em luto e um triste saldo de 10 pessoas mortas: 5 estudantes, duas funcionárias da escola, os dois atiradores e o tio de um deles, morto minutos antes pelo sobrinho.

Há ainda outros jovens que foram baleados e feridos, que estão internados nos hospitais da região e em São Paulo (capital). Os autores dos disparos eram jovens. Guilherme Taucci Monteiro tinha apenas 17 anos. O seu amigo e comparsa, Luiz Henrique de Castro, 25. Dois jovens que, aparentemente, mantinham uma vida normal, sem muitos problemas aparentes. Contudo, como diz o ditado popular: “as aparências enganam”. Sim, nesse caso, a aparência de bons rapazes, que almejavam voltar a estudar, enganou a todos. E com o engano, 10 vidas foram interrompidas em um ambiente que deveria ser de recreação e, sobretudo, de perspectiva de futuro.

Guilherme morava com o avô – a avó faleceu em dezembro do ano passado. Seus pais são dependentes químicos e, apesar de morarem na mesma cidade, não tinham contato com o rapaz. Ele e Luiz eram amigos desde a infância e ambos tinham algo em comum: passavam horas em jogos online e em redes sociais.

Os dois jovens também participavam de grupos de admiradores de armas e costumavam jogar games violentos na internet. Eles, inclusive, teriam pedido ajuda em um dos grupos online mais extremistas do Brasil, o fórum Dogolachan, na Deep Web. Um tipo de internet que exige métodos para ser acessada e é conhecida, principalmente, por facilitar o anonimato e, sobretudo, a venda de armas, drogas e até tráfico de seres humanos.

Além disso, jovens de diversos locais do País comemoraram o ato dos jovens, por meio da internet. Em um dos comentários, um adolescente dizia: “Eu te entendo cara. Muitas pessoas ainda precisam ser eliminadas, esse mundo sujo e contaminado precisa ser limpo, só assim para acabar de vez com esse inferno”.

No twitter, outro jovem dizia admirar o atirador. “Adorooooooo! Sinceramente e honestamente, admiro o atirador”. Ademais, frequentadores do fórum, na Deep Web, também celebraram. “Descobriram o perfil do herói” escreveu um dos internautas do fórum. “Toda glória aos heróis”, disse outro.

Juventude doente
O caso trouxe à tona, novamente, o quão frágil está a nossa juventude. Como os dois jovens do caso, milhares de outros têm passado horas e mais horas de seus dias conectados. Se colocando em uma bolha, sem dar espaço, muitas vezes, aos pais e familiares.

Este tipo de tragédia não é comum no Brasil. Todavia, quando aconteceram, foram suficientemente marcantes. Em 2011, em Realengo, no estado do Rio de Janeiro, Wellington Menezes de Oliveira, de 23 anos, entrou armado na Escola Municipal Tasso da Silveira e abriu fogo contra os estudantes, deixando 12 mortos.

Semelhantemente, em 2017, um adolescente de 14 anos, aluno de uma escola particular em Goiânia, no estado de Goiás, atirou em seus colegas de classe. Dois foram mortos e quatro ficaram feridos. Em ambos os casos, os atiradores eram jovens, que relataram sofrer bullying na escola, não tinham um convívio social muito bom e se mostravam revoltados e/ou justiceiros. O que possibilita o questionamento sobre a saúde emocional e psicológica, tanto de quem pratica quanto de quem é vítima do bullying.

Desequilíbrio e problemas internos

De acordo com uma pesquisa feita pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil, 80% dos jovens entre 9 e 17 anos estão conectados à internet. A realidade é que os jovens brasileiros estão emocionalmente doentes. Vivem em suas bolhas virtuais e não sabem mais o que é uma vida off-line, ou seja, desligados disso tudo.

Eles estão emocionalmente desequilibrados. De acordo com o Ministério da Saúde, a taxa de suicídio entre jovens de 15 a 29 anos aumentou 27,2%. Já uma outra pesquisa, realizada pela Universidade Federal do Paraná com mais de 200 adolescentes, apontou que um a cada quatro adolescentes apresenta sinais de ansiedade. Desses, apenas 5% relataram ter pais participativos.

Nunca foi tão necessário falar sobre as condições emocionais e psicológicas dos filhos. Muitos pais, por sua vez, têm se eximido de suas responsabilidades. Deixam seus filhos livres para que outras pessoas, no mundo virtual, os eduquem. Não vigiam o que eles veem, falam, curtem e compartilham. Não parecem pais de verdade.

Criticar, proibir o acesso ou deixar de castigo, não vai adiantar. Nossos jovens precisam de muito mais que algumas regras. Eles precisam de apoio, incentivo e, sobretudo, de pessoas que se importam com seus sentimentos e dilemas enfrentados em uma das fases mais complicadas da vida. A transição da infância para a fase adulta é repleta de emoções e conflitos, por isso, jovens têm dedicado suas vidas para ajudar a outros tantos que necessitam de atenção e esclarecimento.

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