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O azeite da unção, e a sua origem e propóstio

O bálsamo e o azeite eram os tipos principais, sendo usados nas ofertas, na alimentação, como cosmético, medicamento, combustível para iluminação, na unção dos enfermos e consagração de pessoas e utensílios do templo. A abundância do azeite sempre foi sinal de bênção (Dt 11.14; Joel 2.19,24), mas sua escassez significava maldição e castigo (Dt 28.40,51; Joel 1.10; Mq 6.15).

A produção do azeite nos oferece interessantes lições. É um processo árduo e demorado. Depois de receber todos os cuidados agrícolas habituais, o fruto da oliveira ainda precisa ser levado à prensa, onde é espremido, moído, triturado, a fim de liberar sua desejável essência. A prisão do Senhor Jesus aconteceu no jardim chamado Getsêmani, nome que significa “prensa de azeite”, representando todo o sofrimento do Filho de Deus.

O que fala a biblia sobre Azeite da unção

Desde a época do Antigo Testamento, o ato de se colocar ou derramar azeite sobre alguém simbolizava uma bênção especial. Ao estabelecer rituais de unção em Israel, Deus mandou que Moisés preparasse um óleo composto por diversos ingredientes, sendo o azeite o principal deles:

“Falou mais o Senhor a Moisés, dizendo: Tu, pois, toma para ti das principais especiarias, da mais pura mirra… canela aromática… cálamo aromático… cássia… e azeite de oliveiras. E disto farás o azeite da santa unção” (Ex 30.22-25).

Aquele unguento não poderia ser o mesmo das outras nações, mas único, preparado de acordo com as instruções divinas. Não era fruto da criatividade de Moisés, mas um produto da obediência. Com o óleo sagrado, Moisés deveria ungir o tabernáculo e seus utensílios (Ex 30.25-29). Sem a unção, aquela tenda não seria melhor do que qualquer outra.

“Também ungirás a Aarão e seus filhos, e os santificarás para me administrarem o sacerdócio” (Ex 30.30). Aqueles homens foram escolhidos e chamados para serem sacerdotes em Israel, mas ainda assim precisavam da purificação pela água e pelo sangue, e da unção com o óleo sagrado.  A linhagem e as habilidades seriam inúteis sem a unção (Lv 8.12,30; Lv 21.10).

Além dos sacerdotes, a unção era realizada na consagração de reis e profetas, representando a presença do Espírito Santo sobre os mesmos, capacitando-os para o ofício ou ministério (1 Rs 1.39; 2 Rs 9.6; 1 Rs 19.15-16).

“Então Samuel tomou o chifre do azeite, e ungiu-o no meio de seus irmãos; e desde aquele dia em diante o Espírito do Senhor se apoderou de Davi” (1 Sm 16.13).

A relação simbólica entre o óleo, ou azeite, e o Espírito Santo fica evidente no texto de Isaías: “O Espírito do Senhor Deus está sobre mim; porque o Senhor me ungiu, para pregar boas novas aos mansos; enviou-me a restaurar os contritos de coração, a proclamar liberdade aos cativos, e a abertura de prisão aos presos; a apregoar o ano aceitável do Senhor e o dia da vingança do nosso Deus; a consolar todos os tristes; a ordenar acerca dos tristes de Sião que se lhes dê glória em vez de cinza, óleo de gozo em vez de tristeza, vestes de louvor em vez de espírito angustiado; a fim de que se chamem árvores de justiça, plantações do Senhor, para que Ele seja glorificado” (Is 61.1-3). Assim como não se pode segurar o óleo com a mão sem que ele escorra (Pv 27.16), devemos permitir que o Espírito Santo flua em nós. Ele nos impulsiona e conduz. O Seu poder nos faz testemunhas em movimento até os confins da terra (At 1.8).

A unção sempre está relacionada a um propósito, resumido nas palavras: “Para que Ele seja glorificado” (Is 61.3). A unção não é um fim em si mesma, assim como não usamos azeite como enfeite. O propósito é de Deus e não nosso. Tentar usar a unção para obter riqueza, fama e vanglória seria como jogar ao lixo o óleo sagrado. Deus não unge o egoísmo. A unção nos leva ao encontro do nosso próximo para que ele seja evangelizado, liberto, curado e salvo.

A profecia de Isaías 61 descrevia a missão do Messias, nome que significa “Ungido” (Lc 4.18).

“Esta palavra, vós bem sabeis, veio por toda a Judéia, começando pela Galiléia, depois do batismo que João pregou; como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com poder; o qual andou por toda parte fazendo o bem, e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com Ele” (At 10.37-38). Jesus reuniu em Si os três ofícios relacionados à unção no Antigo Testamento: rei, profeta e sacerdote.

A unção derramada sobre a cabeça desce para o corpo (Salmo 133). Assim, a unção de Jesus vem sobre a Igreja, alcançando cada membro ao seu tempo. Para ser ungido, é preciso estar conectado. Toda função no corpo requer a unção. Caso contrário, pode ser presunção.

A Palavra de Deus não fala de muitas unções espirituais sobre os cristãos (não me refiro agora à unção com óleo para cura). Não temos na Bíblia uma transmissão de unção, como se eu pudesse buscar a “unção de Moisés” ou “a unção de Ezequias” ou “a unção de Tomé” (esta ninguém quer). O que Deus nos oferece é “apenas” a unção do Espírito Santo. É suficiente! Também não temos uma unção para profetizar e outra para expulsar demônios, unção para ser tesoureiro da igreja e outra para cantar, ou ainda algum tipo de “extrema unção”. A unção é uma só: a presença do Espírito Santo em nós, mas os dons são muitos. A intensidade da manifestação do Espírito é variável, assim como acontece com uma erupção vulcânica, mas não existe “nova unção” para o que quer que seja, a não ser que estejamos falando de alguém que está se reconciliando com Deus.

A unção está e permanece em nós (1 João 2.9,27). Não é uma injeção periódica.  Não é algum tipo de hemodiálise espiritual que se realiza durante o culto.

Voltando à unção com óleo, o Novo Testamento só a prescreve para os enfermos (Mc 6.13; Tg 5.14), a exemplo da unção do leproso (Lv 14.18). Evitando “trilhos teológicos” para a fé, creio que podemos ungir pessoas em diversas situações, mas não endemoninhados. Também não há necessidade de ungirmos animais, lugares, imóveis, carros, documentos, chaves, roupas e outros objetos. A banalização é o caminho da profanação. A ênfase do Novo Testamento é no sentido de sermos cada vez menos dependentes de fatores visíveis no exercício da nossa fé. “Bem-aventurados os que não viram e creram” (Jo 20.29).

Unção espiritual não é eloquência, gritos, pulos nem emocionalismo (mas não é proibido gritar, pular, etc, desde que observada a ordem e a decência recomendadas por Paulo). A unção pode tocar as emoções, mas não podemos confundir as coisas. Então, como vamos discerni-las? Fazer rir e chorar, filmes e novelas também fazem, mas a unção muda vidas, convence do pecado e realiza milagres, pois ela é a presença do Espírito de Deus em nós.

A unção quebra o jugo (Is 10.27). A unção liberta, produzindo os resultados profetizados por Isaías (61).  Embora a unção esteja muito relacionada ao exercício ministerial, todo cristão precisa dela. A presença do Espírito Santo em nós é indispensável para que vivamos com êxito a vida cristã, produzindo o fruto que agrada o coração do Pai. O Espírito Santo é o óleo precioso que flui continuamente em nossos corações, capacitando-nos para o ministério, curando nossas feridas e acendendo em nós o fogo que nos faz luz do mundo. Cada igreja local é um candelabro, onde o fluxo contínuo do azeite garante que a luz do Evangelho seja intensa (Ap 1.20).

“Em todo o tempo sejam alvas as tuas vestes, e nunca falte o óleo sobre a tua cabeça” (Ec 9.8).

Pastores: Edvaldo Sousa e Weider Santiago

O azeite da unção, e a sua origem e propóstio