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Rússia um país que não tem LGTBI+: ‘gays, lésbicas, ou transexuais’

O presidente Vladimir Putin que se posicionou como o grande defensor dos valores cristãos tradicionais frente a um Ocidente sem Deus nem moral, provavelmente desejaria que na Rússia não existissem gays, lésbicas, bissexuais ou transexuais. É o que revela o seu roteiro para um país em que a lei estabelece que as relações entre pessoas do mesmo sexo são “inferiores” às heterossexuais.

E graças à chamada lei de propaganda homossexual, que proíbe “a promoção de relações não tradicionais”, eles estão conseguindo. A norma, que estabelece multas e sanções administrativas e se tornou um modelo para países como Argélia, Indonésia e Lituânia, completará cinco anos e baniu do espaço público qualquer sinal suspeito de “criar uma imagem distorcida da equivalência” dessas relações, como diz o decreto. Isso significa que os personagens LGTBI+ se tornaram invisíveis em livros, filmes, peças de teatro e inclusive nas campanhas publicitárias destinadas ao grande público.

“A lei eliminou a possibilidade de falar ou transmitir qualquer tipo de informação relacionada a assuntos LGBTI+. E isso, é claro, inclui a cultura e a educação; uma parte vital da sociedade”, diz o advogado Anton Ryzhov, da organização Stimul. É o efeito da censura das autoridades, mas também da autocensura de autores, editoras ou distribuidoras, que temem multas e ataques de grupos ultraconservadores e a publicidade negativa.

A Rússia descriminalizou a homossexualidade em 1993, pouco depois da queda da União Soviética. Mas lésbicas, gays, bissexuais e transexuais frequentemente sofrem discriminação e ataques. Aproximadamente 37% dos russos acreditam que a homossexualidade é “uma doença a ser tratada”. Outros 18% acreditam que deve ser perseguida, de acordo com uma pesquisa do Centro Levada.

Ser gay ou lésbica é “resultado da sedução dentro da família, na rua ou em uma instituição” para 15% dos russos entrevistados; e para 26% é o “resultado da má criação ou do mau hábito”. E essas opiniões encontraram na lei sua válvula, adverte Igor Kochetkov, um dos mais renomados ativistas pelos direitos LGTBI+ da Rússia, que alerta sobre o aumento dos ataques contra esses grupos.

Os filmes, séries e peças de teatro têm uma classificação por idade, mas a lei também estabelece requisitos para a venda ou difusão de livros etiquetados para maiores de 18 anos. Nessa definição entram não apenas aqueles que falam sobre drogas, álcool ou violência extrema, mas também os que, segundo os censores, poderiam “promover relações não tradicionais entre os menores”, que devem ser vendidos lacrados. E assim é feito, na maioria das vezes embrulhados em celofane: se pode ver a capa, mas não ler o conteúdo de suas páginas.

A Bela e a Fera, o grande remake da animação da Disney de 1991, estrelado por Emma Watson em 2018, foi classificado na Rússia como filme para maiores porque mostra um personagem gay,

Para evitar problemas ou limitações, alguns autores, especialmente os pertencentes às minorias, estão optando pela autopublicação e a Internet. Como Lena Klimova, que publicou Crianças 404, uma série juvenil de temática LGTBI+ difundida através da Internet. Apesar disso, explica Klimova, foi advertida. Creditado ao EL PAÍS

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