Erdogan foi reeleito presidente da Turquia com 53% dos votos
Recep Tayyip Erdogan, o líder islâmico que ocupa o poder na Turquia desde 2002, foi reeleito presidente neste domingo, somando 53% dos votos, segundo os dados oficiais relativos a 95% das cédulas apuradas, divulgados pela agência oficial de notícias Anatolia. Na eleição parlamentar realizada junto com a presidencial, o Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP, de Erdogan) aproxima-se da maioria absoluta, com 44% dos votos, os quais, somados aos 11% do seu aliado Movimento Nacional (MHP), parece garantir-lhe o controle da Câmara.
A maré laranja, cor que identifica o AKP, se espalha por todo o mapa da Anatólia até Istambul. As exceções são o sudeste do país, onde o Partido Democrático dos Povos (HDP, pró-curdo) reforça sua hegemonia e supera a barreira de 10% dos votos nacionais que dá acesso ao Legislativo, e na costa mediterrânea e na Trácia, região fronteiriça com a Grécia, onde o Partido Republicano do Povo (CHP, social-democrata e laico) manteve seus feudos e conseguiu somar, junto com seus sócios direitistas e religiosos, 34% dos votos.
A eleição presidencial monopolizou a atenção política graças ao desafio imposto pelo social-democrata Muharrem Ince, uma figura emergente com a qual se deve contar a partir de agora para o futuro da Turquia. Mas Erdogan demonstrou mais uma vez que não há atualmente em seu país um líder capaz de batê-lo nas urnas.
Apesar da complexa situação econômica da Turquia, marcada pela desvalorização da lira frente ao dólar e ao euro e por uma inflação anual de dois dígitos, o presidente conseguiu a reeleição para seguir à frente da República até 2023, quando se completa o centenário de sua fundação por Mustafá Kemal, Atatürk.
Erdogan superou com sobras o limiar de 50% dos sufrágios que poupariam-no de um segundo turno no qual corria o risco de sofrer um voto de castigo de todas as forças da oposição.
O dirigente centro-esquerdista Muharrem Ince conseguiu pouco mais de 30% dos votos, superando o teto eleitoral do CHP, enquanto a nacionalista conservadora Meral Aksener, que rompeu com a submissão do MHP a Erdogan para criar o Partido do Bem, e o dirigente encarcerado curdo Selahettin Demirtas, empatavam com quase simbólicos 8% cada um.
Até a noite de domingo, a oposição turca ainda se negava a reconhecer os resultados divulgados pela agência estatal de notícias, tachando-os de “manipulação” governamental. O oposicionista Ince pediu aos seus seguidores que “não abandonem” a apuração para impedir eventuais fraudes.
Do mesmo modo reagiu Aksener, que obteve menos votos que o esperado: “Fiscais e amigos, não abandonemos as urnas! Devemos protegê-las dos esforços manipuladores da agência Anatolia”.
Mahir Ünal, porta-voz do governante Partido da Justiça e Desenvolvimento, tachou de “inaceitáveis” os “ataques e ameaças às instituições nacionais, especialmente à agência estatal de notícias”. “O Ministério do Interior confirmou que tivemos um dos processos eleitorais mais seguros”, afirmou, antes de dar por válido o resultado. “Parabéns ao país e à nação, desejo a melhor sorte possível com a entrada do novo sistema.”
Em frente à sede do AKP em Ancara, centenas de simpatizantes se reuniam para festejar a reeleição do seu líder, que recebeu felicitações de aliados políticos, como o líder ultradireitista do MHP, Devlet Bahçeli, e do presidente do Azerbaijão, país que é um aliado estratégico da Turquia, Ilham Aliyev.
Alta participação
Os turcos foram em massa às urnas, com uma participação superior a 88% do censo. Em um colégio eleitoral de Sisli, um distrito laico e rico na parte europeia de Istambul, Seda e Murat, um casal na faixa dos 30 anos, estavam convictos da sua escolha: “Ince, porque representa a social-democracia. O país piorou em muitos aspectos desde que ele [Erdogan] governa”.
Em Çapa, um bairro conservador perto do centro histórico, Nazmi, um operário têxtil que foi votar na companhia da sua mulher e de dois filhos pequenos, expressava seu apoio a Erdogan e ao AKP. “Está claro tudo o que ele fez em 16 anos: estradas, hospitais… e a economia melhorou… Os outros partidos só querem desfazer o legado do nosso presidente”.