Delfim Netto é alvo da Federal no caso de propinas na Usina de Belo Monte
O ex-ministro da Fazenda e ex-deputado federal Antônio Delfim Netto é alvo nesta sexta-feira (9) da Operação Buona Fortuna, na 49ª fase da Lava Jato, que cumpre três mandados de busca e apreensão na capital paulista e mais seis em Guarujá (SP), Jundiaí (SP) e Curtiba. De acordo com as investigações, Delfim Netto é suspeito de receber 10% da propina paga por construtoras que atuaram na obra da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Pará.
Delfim Netto teria recebido R$ 15 milhões do Consórcio Norte Energia (composto pelas empresas Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Odebrecht, OAS e J. Malucelli), por meio de contratos fictícios de consultoria. Além dos 10% remetidos ao ex-ministro, o consórcio teria enviado propina aos partidos PMDB e PT. Segundo o Ministério Público Federal (MPF), cada um dos partidos recebeu 45% dos valores.
O grupo de empresas pode ter sido favorecido no leilão de concessão de Belo Monte por agentes do governo federal. O Ministério Público usou informações obtidas pelos acordos de leniência firmados com a Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e Odebrecht, além da quebra de sigilo bancário, fiscal e telefônico. No caso da Odebrecht, os pagamentos direcionados a Delfim Netto vinham com o codinome professor.
Além da corrupção, o MPF aponta os prejuízos sociais e ambientais na região a partir da construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte.
Perfil
Personagem da política brasileira há mais de cinco décadas, Antonio Delfim Netto ganhou notoriedade nos anos 60 e 70, quando ocupou o cargo de ministro da Fazenda durante a ditadura militar. Ascendeu ao comando da economia em 1967, durante o governo do general Artur da Costa e Silva e ficou na função até 1974, último ano do governo de Emílio Médici. Foi durante sua passagem pelo Ministério que ocorreu o chamado “milagre econômico”, período de grande aceleração do crescimento da economia brasileira que coincidiu com a fase mais intensa da repressão política na ditadura. Influente entre os economistas brasileiros, Delfim Netto conseguiu manter o prestígio após a saída do cargo, que coincidiu com o declínio do modelo do “milagre”.
Tanto que cinco anos depois, em 1979, ele retornou ao governo, agora comandado por João Baptista Figueiredo. Primeiro como ministro da Agricultura e depois como titular do Planejamento. Com a redemocratização, em 1985, ingressou no PDS, o sucessor da Arena (partido de suporte político civil à ditadura) e exerceu mandatos consecutivos como deputado federal. Em uma inflexão política, em 2005, ele deixou o PP (herdeiro do PDS-Arena) e ingressou no PMDB, se tornando um conselheiro econômico do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e estreitando suas relações com o establishment petista. Desde 2006, Delfim, que está há dois meses de completar noventa anos, não disputa mais cargos públicos.