Cientista de 104 anos pôs um fim à sua própria vida ao som de Beethoven
O cientista David Goodall, de 104 anos, pôs um fim à sua própria vida na manhã desta quinta-feira em uma clínica na Suíça, cercado pela família e ouvindo “Ode à Alegria”, de Beethoven. Nascido no Reino Unido, ele fez uma campanha no país onde morava, a Austrália, para ser autorizado a realizar suicídio assistido. Goodall não tinha nenhuma doença grave ou terminal, mas alegava que já havia vivido muito e que sua qualidade de vida estava aquém do que ele gostaria.
O professor e cientista precisou viajar até a Suíça, onde as leis permitem que uma pessoa possa se matar legalmente, ao contrário da Austrália, onde o ato permanece proibido. Em suas últimas horas, Goodall desfrutou de seu jantar favorito: peixe e batata frita, com cheesecake como sobremesa. E, em seus minutos finais, ele ouviu a Nona Sinfonia de Beethoven, mais conhecida por seu último movimento, “Ode à Alegria”. Ele morreu logo após o término da peça musical.
A morte assistida é legal no Canadá, Holanda, Luxemburgo, Suíça e partes dos EUA. No processo pelo qual Goodall passou para morrer, ele apenas precisou girar uma espécie de roda que permitia que uma infusão letal fluísse em sua corrente sanguínea através de seu braço.
Botânico e ecologista, o idoso fez uma longa campanha em favor da morte assistida na Austrália — o estado de Victoria está planejando legalizar esse procedimento para doentes terminais a partir de 2019. Ele foi para a clínica da organização suíça pela morte assistida chamada Círculo de Vida, acompanhado pelo médico Philip Nitschke, fundador do grupo australiano Exit International, que defende o direito à morte digna.
Goodall dispensou funeral
Embora o cientista não fosse um doente terminal, sua visão e sua mobilidade se deterioraram consideravelmente nos últimos anos. Ele afirmou que sua vida deixou de ser agradável “cinco ou dez anos atrás”. Goodall pediu que seu corpo fosse doado à medicina ou, se isso não fosse possível, que suas cinzas fossem espalhadas pela Suíça. Ele não queria ter um funeral, já que não acreditava na vida após a morte.
Morte digna é direito de todos
A Exit International, que ajudou Goodall a fazer a viagem, ressaltou que é injusto que um dos “cidadãos mais antigos e proeminentes da Austrália seja obrigado a viajar para o outro lado do mundo para morrer com dignidade”. “Uma morte digna e pacífica é o direito de todos”, disse a organização em seu site na segunda-feira. “E uma pessoa não deve ser forçada a sair de casa para alcançá-la.” No entanto, o presidente da Associação Médica Australiana, Dr. Michael Gannon, diz estar preocupado que o “suicídio de alguém com 100 anos” seja celebrado.
Qual é a idade em que não celebramos mais as pessoas continuando a vida? — questionou ele, também ao “Guardian”. — Pessoas como Goodall tomam uma decisão baseada na ideia de que não há mais nada para se viver. Eu acho que é uma linha perigosa para atravessar.